terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A ilha de páscoa, o crescimento econômico e o apocalipse

 

Páscoa é um dos recantos mais isolados do nosso Planeta; ilha vulcânica perdida na imensidão do Oceano Pacífico, é famosa por suas enormes estátuas de pedra. Há uma teoria defendida por uns cientistas e criticada por outros, descrevendo que os invasores europeus que lá chegaram no século XVIII encontraram uma população nativa em frangalhos em uma terra inóspita. Mas nem sempre foi assim, pois entre os séculos IV e V, povos de origem asiática lá se instalaram e prosperaram numa terra de abundância com tudo de bom que a natureza podia lhes oferecer. Mas a obsessão por construir as citadas estátuas de pedra que demandavam muita madeira para seu transporte até os locais desejados (e a ilha está cheia destas estátuas) pode ter levado ao desflorestamento crônico que culminou com a erosão da terra sem a sua proteção silvestre, fazendo com que a chuva e o vento levassem consigo os nutrientes do solo. A fome assolou este povo que outrora gozava de fartura e as guerras entre tribos proliferaram, reduzindo sua população a uma pequena fração à época da chegada dos europeus. Há ainda a agravante de que sem madeira eles não poderiam migrar para outras terras em busca de melhores condições de sobrevivência. Enfim, estavam literalmente ilhados de tudo e de todos. Se compararmos este episódio fazendo uma analogia da Ilha de Páscoa com o Planeta Terra, veremos que este Planeta Azul também é uma ilha perdida na imensidão deste oceano chamado Universo. O que semeamos hoje será, com certeza, colhido pelas gerações futuras. Não se pode ser contra o crescimento econômico, mas um pouco de parcimônia não faz mal a ninguém, pois se hoje exaltamos o crescimento econômico de 10% ao ano da China nas últimas décadas e da Índia num ritmo quase igual, devemos estar atentos a algo muito curioso: ao longo da história da humanidade, o crescimento é mais uma exceção que uma regra, pois se fôssemos modestos o suficiente para aceitarmos um crescimento econômico contínuo de 0,5% ao ano (algo impensável para os adoradores e visionários de plantão da China e da Índia) nos 2007 anos da Era Cristã, teríamos uma renda per capta a dólares de hoje no ano zero menor que US$ 1,00 ano. Convenhamos, é algo inimaginável que alguém na época do nascimento de Cristo pudesse viver assim, a não ser que aceitemos que o Crescimento Econômico não acompanhou a história da humanidade em sua boa parte. De fato, só a partir da Revolução Industrial no final do Século XVIII, este crescimento começou a ficar perceptível. Todo gestor público ou privado, seja nos seus planejamentos de curto, médio e longo prazo não tolera a não inclusão do crescimento econômico, até mesmo nos seus cenários mais pessimistas. Mas até quando? Estamos exaurindo nossos recursos, assim como o fizeram os habitantes da Ilha de Páscoa? Nas Ciências Econômicas há algo conhecido como Lei dos Rendimentos Decrescentes dos Fatores de Produção (Capital, Trabalho e Recursos da Natureza) que prova que só a acumulação de capital não é suficiente para o crescimento contínuo, no máximo serve para elevar a renda per capta para um patamar mais alto, mas ainda assim estático. Só os ganhos de eficiência de produção, com as constantes evoluções tecnológicas, de gestão e de segurança jurídica permitiriam o crescimento contínuo. Mas é muito comum a conversa terminar neste binômio capital e trabalho, se esquecendo que é um trinômio com a participação do fator de produção recursos da natureza, este sim um possível gargalo para o crescimento contínuo devido àquela Lei dos Rendimentos Decrescentes dos Fatores de Produção. Imagine agora que os 10% de crescimento chinês tenha um apetite (e tem) por combustíveis fósseis, nocivos à nossa camada de ozônio. Se, como por encanto, a nova matriz energética renovável fosse capaz de suprir estes 10% de crescimento anual chinês, muito provavelmente a China não trocaria os 10% lastreados em combustíveis fósseis por 10% lastreados por energia renovável. Ela optaria por crescer 20% ao ano, onde a energia renovável não viria para substituir e sim para se somar às fontes de energia já existentes. Enfim, os desejos humanos são infinitos, mas os recursos para satisfazê-los não o são. Tratar com parcimônia das oferendas da Mãe Natureza não parece ser da natureza humana.
Por  Wellington Marinho Falcão

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