terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Chimpanzé, o protetor solar e a estatística

 

Nas minhas navegadas pela Internet descobri que um protetor solar fator de proteção (FPS) 30 nos protege contra 97% dos raios UV, nocivos à nossa pele, e que o fator de proteção 15 nos dá uma proteção de 93%. Portanto, passar de FPS 15 para 30 não implicaria em dobrar esta proteção, mas, como a maioria das pessoas diria, implicaria em um ínfimo aumento de 4%. Porém, aqueles com um pensamento um pouco mais positivo diriam que se conseguiu reduzir em mais e 50% (de 7% para 3%) o percentual de raios UV não filtrados pelo protetor solar.
Como pode um mesmo número variar de 4% a mais de 50%, dependendo apenas da percepção de quem o analisa?
A estatística, ou por ignorância, ou por má fé, pode se prestar para confirmar uma mentira. Em embates recentes, envolvendo organismos internacionais e o Governo Brasileiro, isto se evidenciou. O Brasil foi acusado de ter tido nestes últimos anos um aumento considerável no nível de corrupção, o que foi rebatido firmemente pelas autoridades brasileiras. Em sua defesa, foi dito que o aumento não foi da corrupção, e sim da percepção que se tem dela, pois, segundo estas mesmas autoridades, nunca se combateu tanto a corrupção como na atual gestão da Máquina Pública, daí a constante veiculação na mídia de casos envolvendo a malversação dos recursos públicos.
Quem já não viu na TV aquele comercial da bateria que vende mais porque é inteligente, ou é inteligente, porque vende mais? Pense, então, numa empresa em que funcionários com melhor desempenho são premiados com mais capacitação e, consequentemente, as possibilidades de ascenção funcional se descortinam. Mas há o outro lado da moeda, em que um sistema perverso de segregação funcional se constrói. Não se tem mais a noção de que só é capacitado quem tem bom desempenho, ou só tem bom desempenho quem é capacitado. A noção de causa e efeito se confunde.
Para aqueles que ainda assim acham que aquela diferença entre 93% e 97% é algo insignificante, independentemente da percepção de quem a analisa, vale lembrar que são meros 4% as diferenças entre o DNA de um ser humano e o de um chimpanzé.
Variações sutis, sem dúvida, podem gerar diferenças nada sutis.
  Por Wellington Marinho Falcão

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